Há grupos distintos com interesses vários, de humanitária e ação solidária, na especulação financeira, no oportunismo político institucional ou marginal, na exploração de tragédia onde no mundo ocorra.
A gota d'água na Nicarágua foi a apropriação privada da ajuda internacional lá chegada para socorro às vítimas do terremoto em Manágua em 1972(*) pela famiglia Somoza, Anastácio, depois Tachito à frente dos poucos donos daquele rico país.
A gente humana não é diferente apenas porque no Brasil, no Rio Grande do Sul, em Porto Alegre, no Bairro Humaitá, na Vila Areia, onde 175 famílias ou mais, vítimas de incêndio em favela há década no mínimo na área.
Há entre o pobre povo, ainda mais miserabilizado,
o que no mundo há.
- Os que se cadastraram como atingidos no dramático domingo passado.
- Os abrigados no Ginásio da Escola Antônio Giúdice.
- Os desabrigados pelo incêndio, que aceitaram a assistência transitória e precária do aluguel social.
- Os que ficaram no local sinistrado para guarda de animais de tração, pertences vários: carrinhos de puxar material reciclável, móveis e salvados outros de porte, e que na área frente ao lugar das casas queimadas montaram barracos improvisados...
- Os que viviam de explorar o pobre povo da vila - traficantes de drogas e proxenetas.
Privada ou pública, a área é de ocupação.
Ergue-se o direito à moradia como o primeiro. Inconteste e humano.
A solidariedade a ele na dramática noite que se estende já por uma semana inteira, é urgente, necessária.
A humanidade só cresce pelo bem.
Ação solidária desinteressada de especulação ou promoção pública de quem seja que parta.
A ninguém é dado desconhecer realidade em que intervenha.
Tenho repetido nos dias que correm, o que ainda criança aprendi de gente experiente: não entre em lugar e situação que desconheça e não saiba como sair...
Os que fazemos o bem sem a quem olhar, não custa ampliar a visão...
Vale pra tudo na vida.
Há uma exigência imediata e cabível a quem vai atuar por qualquer bom sentimento no local.
A construção, já, próximo ao local destruído, de alojamento de transição para o conjunto das famílias atingidas.
Os atuais moradores da Vila Planetário e os do Conjunto Habitacional Nova Chocolatão tem experiências distintas e muito a ensinar para a ocasião.
Uma medida assim - que admito seja precária e mesmo discutível - tem as vantagens únicas de aproximar todos os tingidos para a busca de solução humana e justa para todos.
Juntos seriam mais organizados e mais fortes e ainda separariam de entre si traficantes, proxenetas e oportunistas de tipos variados que a ocasião propicia surgir.
No trabalho político comunitário de que participei na cidade por mais de 35 anos, a exploração do lenocínio e a da manutenção do poder político do traficante nunca foi apresentada ao povo reunido, organizado e consciente.
Às instituições outras, privadas ou públicas, cabe agir para acelerar processos da conquista de recursos para a melhor solução construída em conjunto com os necessitados desabrigados pelo incêndio do domingo passado.
Tem todas as chances, os do bem, de fazer o melhor.
- Inscrição prioritária de todos os atingidos para loteamentos próximos dali.
- Espaço para abrigo de animais de tração, carroças e carrinhos de apanhadores de recicláveis.
- O que mais decidam por si todas as pessoas juntas, a representação delas que constituam, as instituições e os agentes privados e as autoridades públicas.
Os que agem para o bem e os no bem interessados.
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(*)As aparências democráticas desapareceram em 1971, quando Somoza revogou a constituição e dissolveu a Assembleia Nacional. Aproveitando-se do terremoto que em 1972 arrasou Manágua.
Durante quarenta anos a família Somoza manteve-se à frente de um regime ditatorial, sustentando os próprios interesses comerciais e aumentando a fortuna pessoal.
Os oponentes pertenciam à Frente Sandinista de Libertação Nacional (FSLN), uma organização de guerrilha fundada em 1962 por Carlos Fonseca Amador e cujo nome homenageia Augusto Sandino, guerrilheiro executado em 1934.
